quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Quem cuida do seu dinheiro?

 
Um estudo do professor Andrew Clare, da universidade Cass Business School, de Londres, mostra que nossos primos próximos também podem ser eficientes em tarefas mais complexas, como a de gerir investimentos. 
 
Clare e sua equipe realizaram uma pesquisa que comparou o desempenho de carteiras de ações escolhidas aleatoriamente com os índices de mercado. O resultado: em todos os casos, as carteiras escolhidas pelos macacos bateram os índices. A imagem clássica é a de comprar as ações que um chimpanzé indicar em uma página de jornal que traga as cotações da bolsa. Obviamente incapaz de ler, o macaco faria escolhas 100% aleatórias, sem as restrições racionais do gestor. 
 
O experimento de Clare consistiu em comparar o desempenho de dez milhões de carteiras de ações americanas entre 1968 e 2011. Para fazer isso, o professor não recrutou um exército de primatas do zoológico mais próximo e os submeteu a incansáveis sessões de escolha. “Usamos um algoritmo de computador para gerar as carteiras, estatisticamente aleatórias”, diz ele. A pesquisa foi simples. Os macacos, isto é, os computadores, tinham de montar uma carteira com mil ações. Cada uma teria 0,1% de participação nesse portfólio, e não havia limite para o número de vezes em que uma ação pudesse ser escolhida. A intenção de Clare era estudar o efeito da incerteza sobre os investimentos, mas ele admite que o resultado o surpreendeu. 
 
Na média, um investidor que tivesse colocado US$ 100 no mercado acionário americano no início de 1968 teria pouco menos de US$ 5.000 no fim de 2011. No entanto, metade das carteiras “simiescas” rendeu US$ 8.700, 25% renderam US$ 9.100 e 10% delas obtiveram um ganho superior a US$ 9.500. “Praticamente todos os macacos obtiveram um resultado melhor do que o do índice ponderado do mercado”, diz Clare. Calma. Não largue a revista e corra para o zoológico levando um cheque. A intenção da pesquisa de Clare não foi confirmar que os macacos são mais inteligentes que os gestores de fundos, mas demonstrar como é ruim a ideia de investir em um fundo que simplesmente reproduz um índice de mercado, como o Índice Bovespa. 
 
108.jpg
Andrew Clare, da Cass Business School: "o resultado nos surpreendeu.
Em 100% dos casos, os macacos bateram os índices" 
 
Em índices desse tipo, algumas ações têm participação maior do que outras. Por exemplo, papéis como Petrobras e Vale são muito mais importantes do que ações da BR Properties, que será incluída na próxima carteira teórica do mercado. A pesquisa de Clare mostrou que, embora tenha superado os índices, a maioria das carteiras aleatórias perdeu daquelas que têm gestão ativa e empregavam metodologias de redução eficiente do risco. Uma parte da explicação está na maldade da estatística. “Ao se comparar um grande número de carteiras, os resultados tendem a convergir para a média”, diz William Eid Júnior, professor de finanças da FGV de São Paulo. Essa característica numérica ressalta o trabalho de um grande número de gestores medíocres, e empana os bons serviços dos especialistas no assunto. 
 
Também há a distorção provocada pela cobrança de taxas de administração, pelos custos de registro, corretagem e de auditoria. Outra parte da explicação é que a maioria dos gestores tenta reduzir os riscos. O ideal para um profissional que administra um fundo que segue um índice é cair menos do que o indicador em tempos de baixa. Para conseguir isso, o gestor tende a optar por estratégias conservadoras, que reduzem as perdas em potencial, mas que têm a desvantagem de apresentar lucros abaixo da média do mercado em momentos de valorização. “Ao defender-se das perdas, o gestor também acaba abrindo mão dos ganhos, o que piora o desempenho no longo prazo”, diz Eid. Como ganhar, portanto? “Quem investe em um fundo de ações deve investir, antes de mais nada, na competência da equipe de gestão”, diz o consultor-financeiro independente paulista Fernando Costa. 
 
 
Suas recomendações para escolher um fundo de ações ativo são duas. A primeira é comparar o desempenho do fundo específico com outros fundos da categoria e com os principais índices de mercado por um período de, no mínimo, três anos, dedicando especial atenção aos momentos em que a bolsa cai. “O diferencial de um bom gestor está nos momentos de crise”, diz Costa. “Com o mercado em alta, todo mundo é genial.” A segunda é verificar a consistência do patrimônio desse fundo nos mesmos três anos. Se a carteira mostrar grandes saques e grandes aplicações sucessivas, ela tenderá a ser mais arriscada, pois o gestor poderá ser obrigado a vender ações que ainda têm espaço para subir, apenas para honrar os saques dos clientes. Traduzindo: os macacos podem ser melhores que um índice, mas não são páreo para um bom gestor.
 

8 comentários:

  1. Respostas
    1. Olá Sonny! gostei do teu blog, especialmente do post Não pense, estude

      grande abraço

      Excluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Olá Pastor,
    Artigo muito interessante.
    Isso mostra que para ganhar dinheiro na bolsa de valores não requer métodos mirabolantes ou robôs sofisticados, basta um carteira bem balanceada de acordo com a estratégia adotada.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Exatamente Aroldo! Futuramente vamos fazer 3 carteiras, uma real e duas experimentais e acompanhá-las no decorrer dos anos (uma totalmente aleatória, uma pelo método de Greenbalt e uma mais fundamentalista). Vamos ver o que sai no futuro.

      um grande abraço e obrigado pelo seu comentário

      Excluir
  4. eu invisto no Bogari. Comecei por ali, fiz o aporte e não mexi mais, de outubro do ano passado até agora há 5% positivo só vou mexer ali quando tiver com a seleção completa das empresas. Sacar cedo é igual imposto de renda de 20% :( espero que os meus gestores façam alguma "macaquice" para melhorar isso.

    ResponderExcluir

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *