sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Onde alocar $$$ - PARTE 2

Temos que ser capazes de superar a inflação e conseguir algo mais por um dinheiro que economizamos sob grande esforço.

Não viva só do óbvio

Em outras palavras, o amor brasileiro pela poupança e pela renda fixa precisa ser substituído por novas paixões. O candidato mais imediato - outra espécie de paixão antiga - é o setor imobiliário. O imóvel desperta no brasileiro uma sensação de segurança, como se algo físico estivesse associado à perpetuidade da geração de valor. 

Sim, é difícil perder dinheiro com imóveis e segue-se com visão otimista para o segmento. Entretanto, cabe a ressalva de que, depois de anos sucessivos de destacada valorização, talvez não haja espaço tão grande para novas altas expressivas nos preços dos imóveis.

Nós também gostamos de imóveis e achamos que eles devem compor uma fatia de seu patrimônio total. Porém, isso não significa colocar todo o dinheiro em imóveis, por pura preguiça de pensar em alternativas.

Reserve espaço para outros caminhos inteligentes.
Investindo em ações

Argumentamos em prol da necessidade - e não somente da opção - de destinar parte de seu capital ao investimento em ações. Não deve ser o único destino, mas precisa ser um dos destinos

Tradicionalmente, o brasileiro não está acostumado com Bolsa de Valores. Muitos acham que é um mundo pouco acessível e muito arriscado, que não tem lastro real. Mas essa é uma visão ultrapassada, e que custa caro.

Atualmente, cerca de 600 mil CPFs brasileiros possuem cadastro na Bovespa. Num país de contingente bem mais modesta, a Colômbia tem também 600 mil indivíduos aplicando em Bolsa.  E nos Estados Unidos, mais da metade da população destina parte da poupança ao mercado de ações. Crianças, jovens, adultos e idosos se beneficiam do crescimento nos lucros das empresas americanas.

O primeiro ponto a se combater se refere ao suposto caráter excessivamente arriscado das ações.  A afirmação decorre, em grande medida, da confusão entre volatilidade (o quanto uma coisa pula para cima e para baixo) e risco. 

Pense no seguinte: o quão volátil esteve a alimentação do peru de natal e, por conseguinte, a saúde do bicho durante 360 dias do ano? Quando a baixa volatilidade parecia sinal inequívoco da perenidade do animal, chega o natal e o coitado se dá conta de ter virado o próprio jantar.

Achar que as ações são mais arriscadas simplesmente porque variam bastante é uma visão simplista e distorcida. Volatilidade e risco são coisas bastante diferentes. 

A volatilidade diária pode ser inclusive um bom sinalizador, por relevar um mercado líquido, com marcação de preços instantânea e uma demonstração real da capacidade de se desfazer do ativo num determinado preço. 

Em contrapartida, a falta de volatilidade de um título de renda fixa pode ocorrer apenas  porque seu fluxo de pagamentos virá lá na frente, talvez guardando uma surpresa. O gráfico abaixo poderia ser boa representação da vitalidade de nosso peru de natal – poderia simbolizar também os ganhos (e perdas) de um título de renda fixa com calote no final.



O fixo não é 100% garantido

A terminologia das coisas também não ajuda.  Quando você confronta o apelo da expressão “renda fixa” contra “renda variável”, a segunda se mostra em clara desvantagem. 

O problema é que a tal renda fixa pode não ser nada fixa – ao contrário, os fundos de renda  fixa, inclusive, vinham amargando perdas (resultados efetivamente negativos em termos absolutos, e não somente abaixo da  Selic) neste começo de ano. 

A renda só será efetivamente fixa se o título for carregado até o seu vencimento. Caso contrário, o investidor pode incorrer em perdas, contrariando a ideia de fixação. Se o investidor resolver, por exemplo, comprar uma NTN-B (título soberano brasileiro cuja remuneração se dá através da variação do IPCA no período mais uma taxa de juro) com vencimento em 2050, terá de carregar até o vencimento para apurar retorno equivalente ao acordado quando da compra de seu título. Suponha que você comprou esse papel, pagando um preço correspondente a uma variação de IPCA + 5,50% ao ano. Caso amanhã o mercado comece a exigir juro real mais alto para se comprar um título brasileiro para esse prazo, o juro oferecido pelo título terá de subir – para IPCA + 5,55% ao ano, por exemplo.


O juro dos títulos representa o inverso de seu preço. Então, caso você opte por – ou precise - vender sua NTN-B no meio do caminho, receberá preço inferior ao pago inicialmente. Pagou caro e vendeu mais barato. A única coisa fixa que lhe sobrou foi sua linha de telefonia e, mesmo assim, por pouco tempo.

Ações versus CDI

Indo um pouco além no argumento, a evidência histórica sugere que as ações superam a renda fixa em longos intervalos de tempo. Logo, se, no longo prazo, normalmente as ações batem os títulos, o que seria mais arriscado: expor-se à maior volatilidade das ações ou estar num ativo que lhe oferecerá rentabilidade inferior? 

Não há risco nenhum de ser atropelado se você passar 24h do seu dia sentado no sofá.Mas não somente de uma questão relativa, de comparação imediata com a renda fixa, decorre a atratividade das ações. 

Ao comprar uma ação, o sujeito adquire um pequeno pedaço do capital da empresa. É como ter seu próprio negócio delegando a gestão a um terceiro, em tese, por ser gestor de uma companhia grande e de capital aberto, com competência e responsabilidade para tanto. Investir em Bolsa é compactuar com o prognóstico de crescimento dos lucros corporativos e, em última instância, com a própria perspectiva favorável para a economia brasileira. Por natureza, somos pessoas realistas e acreditamos no Brasil. Não é, porém, apenas uma característica individual. 

Em termos de preço das ações, os níveis atuais sugerem oportunidade interessante. O Ibovespa, principal índice de ações brasileiro, acumula queda de cerca de 26% em 2013, contra uma alta superior a 15% do S&P 500 (índice norte-americano).



Justamente quando ninguém quer saber da Bolsa, quando ela atravessa momentos ruins, os preços estão mais baratos, sendo, portanto, mais representativos da lógica básica de finanças de se comprar barato e vender caro – compre ao som dos canhões e venda ao som dos violinos, diz o ditado.

Analogamente, entre comprar fazendas de produtividade equivalente da terra por R$ 15 mil/alqueire ou R$ 20/alqueire, de novo a primeira opção seria mais atrativa. Vale rigorosamente o mesmo racional para as ações. 

E há ainda um argumento de cunho quase filosófico. 

Talvez você se sinta mais confortável em dar dinheiro na mão de um empresário, que investirá na própria empresa com um objetivo bastante claro (dar lucros), do que em emprestar dinheiro para um governo cujo propósito, por vezes, pode atender a interesses diferentes daqueles do credor.

Isso abarca os principais elementos em prol da atratividade de se investir em ações. Mas ainda falta endereçar uma pergunta trivial: “Ok. Legal. Eu topo estrar na Bolsa. Mas o que  comprar?”

4 comentários:

  1. Achei que vc esclareceu bem pq investir em ações é interessante, principalmente no argumento de que vc se torna socio de uma empresa, algo que o WB sempre bate a tecla. Agora no post deu a impressão que vc demoniza a renda fixa, e não acho ela nada ruim... principalmente se ela te ajuda a equilibrar uma carteira. O próprio Graham repetidamente cita a importancia de uma carteira equilibrada...

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  2. Muito bom o texto, além de conteúdo está bem claro com respeito a organização das ideias. Concordo com quase tudo, apenas uma ressalva já citada pelo Médico PI acima sobre a "demonização" da renda fixa. Pra dizer a verdade até acredito que você não seja tão contra a RF assim pois não faz sentido uma carteira 100% em RV, mas o texto não deixa isso muito claro.
    Abraços,

    Blog Economicamente Incorreto
    http://economicamenteincorreto.blogspot.com.br

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  3. Olá Médico e Economicamente Incorreto! na verdade vejo a renda fixa como uma boa para nosso fundo de emergência ou o nosso chamado colchão de segurança - o fundo necessário para nossas despesas por 6 meses ao menos. Minha idéia de investimento hoje é 100% atrelada a ações ou balanceada por FII (que na minha opinião é a renda variável que muito se aproxima da renda fixa porque enquanto valoriza seu principal e te paga juros). Obrigado pelo comentário de vocês e caso houver alguma dúvida sobre as ideias sintam-se a vontade para opinar porque muitas vezes eu erro.

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  4. Eu gosto muito da sugestão do Graham, de equilibrar cerca de 50-50, ou 60-40, entre renda variavel e fixa. De qualquer forma, o legal da discussão é isso, pois não existem opinião "certa" ou "errada"... Tudo gira em torno dos argumentos que a pessoa utiliza.

    Acho que o dimarcinho também mantém praticamente toda a carteira dele em renda variável. Temos também grandes investidores brasileiros com bastante posição em renda variavel, como o Barsi e o Parisotto, mas não sei dizer exatamente a proporcao na carteira deles. Eu sou mais conservador, pq acredito que depois que sua renda começa a atingir certos valores como 1 ou 2 milhoes, gostaria de ter a segurança de boa parte estar em renda fixa. Se viesse uma crise, eu estaria bem posicionado, uma vez que giro pouco a carteira.

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